
Foto: Beto Albert
As mudanças climáticas têm desempenhado um papel significativo na expansão global do mosquito Aedes aegypti, que é vetor de doenças como dengue, Zika e chikungunya. O aumento das temperaturas e a intensificação de eventos climáticos extremos, como o fenômeno El Niño, criam condições ideais para a proliferação do inseto.
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Estudos indicam que, durante períodos de El Niño, há um aumento significativo na infestação por larvas do Aedes aegypti, especialmente em regiões com temperaturas acima de 23,3°C e precipitações superiores a 153 milímetros.
Segundo o relatório global The Lancet Countdown, devido ao aquecimento decorrente das mudanças climáticas, a dengue tem uma probabilidade de aumentar em até 37% seu potencial de transmissão no mundo inteiro.
Investimentos
Em resposta à tendência de aumento durante o período sazonal, desde 2023, o Ministério da Saúde mantém vigilância constante sobre o cenário epidemiológico, promovendo ações contínuas e capacitando estados e municípios para enfrentar diferentes situações.
Nesta última sexta-feira (14), a pasta publicou uma nota técnica atualizando a recomendação de uso da vacina da dengue e permitindo a ampliação do público-alvo desse imunizante, além do remanejamento para novos municípios, em caráter temporário, para doses com prazo de validade iminente. A iniciativa visa garantir que todos os imunizantes adquiridos cheguem à população, ampliando a proteção contra a doença.
As doses com um prazo de dois meses de validade poderão ser remanejadas para municípios ainda não contemplados pela vacinação contra dengue ou ser aplicadas em faixa etária ampliada, contemplando pessoas de 6 a 16 anos. Para as vacinas que completarem um mês de validade, a estratégia poderá ser expandida até o limite etário especificado na bula da vacina, abrangendo a faixa etária de 4 a 59 anos, 11 meses e 29 dias.
A expansão do público-alvo deve considerar a disponibilidade de doses e a situação epidemiológica de cada estado e município. Em 2024, a vacina da dengue foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) para o público de 10 a 14 anos que reside em localidades prioritárias, conforme critérios definidos a partir do cenário epidemiológico da doença no país e decisão pactuada com estados e municípios na Comissão Intergestores Tripartite (CIT).
O Brasil foi o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público universal. A vacinação no país começou em fevereiro de 2024 em 315 municípios e, desde então, vem sendo ampliada, chegando atualmente a 1.921 municípios.
Para o período sazonal 2024-2025, o Governo Federal deve investir mais de R$ 1,5 bilhão na aquisição de novas doses, insumos laboratoriais para testagem das arboviroses, insumos para controle vetorial, mobilização e conscientização da população, além de suporte aos municípios para custeio assistencial.
No período de baixa transmissão, estão sendo priorizadas as ações preparatórias com a intensificação do controle vetorial do Aedes aegypti, utilizando tecnologias adaptadas às realidades locais, preparação da rede assistencial com a qualificação das equipes e parcerias com entidades privadas para garantir atendimento oportuno à população e reduzir hospitalizações e óbitos evitáveis.
Novas tecnologias
Para mitigar o impacto das mudanças climáticas na disseminação do Aedes aegypti, o Ministério da Saúde vem adotando uma série de tecnologias para o controle do Aedes aegypti. Isso inclui as Estações Disseminadoras de Larvicidas (EDLs), o monitoramento entomológico por ovitrampas, a Borrifação Residual Intradomiciliar (BRI -Aedes), uso de Inseto Estéril Irradiado e o Método Wolbachia, que utiliza uma bactéria que não tem capacidade de causar doença em humanos e animais, mas que bloqueia a proliferação do vírus no organismo do mosquito.
Fatores específicos que contribuem para esse cenário:
Aumento da temperatura
- A alta temperatura acelera o ciclo de vida do Aedes aegypti, permitindo que os ovos e larvas se desenvolvam mais rapidamente em condições de calor extremo.
- Os mosquitos adultos tornam-se mais ativos em temperaturas mais altas, aumentando sua taxa de reprodução e o número de picadas por dia, o que amplia a transmissão de doenças.
Mudanças nos padrões de chuva
- w Chuvas irregulares e períodos prolongados de seca seguidos por chuvas intensas criam ambientes propícios para o acúmulo de água, favorecendo a proliferação do mosquito em recipientes como caixas d’água, pneus e calhas
- w A expansão de áreas úmidas após eventos climáticos extremos amplia os locais de reprodução do Aedes aegypti
Expansão geográfica do mosquito
- O aumento das temperaturas permite que o mosquito sobreviva e se reproduza em regiões anteriormente consideradas frias, ampliando sua distribuição para áreas de maior altitude e latitudes antes livres do vetor.
- Regiões como o sul do Brasil, que antes tinham baixa incidência de dengue, estão registrando um crescimento significativo de casos
Urbanização desordenada
- O crescimento de cidades sem infraestrutura adequada, como saneamento básico precário e a falta de controle de resíduos, cria mais locais de proliferação do Aedes aegypti
- Populações vulneráveis em áreas de risco ficam mais expostas a ocorrência de arboviroses
Impacto na sazonalidade das doenças
- Com padrões climáticos mais imprevisíveis, a sazonalidade das arboviroses está se tornando menos definida, o que significa que casos podem ocorrer ao longo de todo o ano, dificultando o planejamento e controle por parte das autoridades de saúde
*Com informações do Ministério da Saúde